segunda-feira, 27 de maio de 2013

Os namorados e as pizzas com azeitona

Para manter uma amizade, a gente engole a mesma história mil vezes. Mesmo quando não gosta dela!

E era a décima vez que a Lia me contava a mesma história. Sim, eu sabia aquele detalhe. E aquele outro? Eu sorria: aqueles outros todos também. Amigos e amigas quando gostam de alguém falam. E ilustram. E querem compartilhar, é natural. E é natural também que queiram compartilhar três vezes seguidas só para ter certeza de que todo mundo entendeu quanto o Caíque era o garoto mais lindinho e queridinho da face da Terra. Ela já contou de...? Provavelmente, já. 
E não tem nada de errado com isso, certo?
Errado.
As repetições cansam. São só um monte de detalhezinhos e micromimimis que saem. E quando termina o namoro? A gente ouve as reflexões também. To-das. Os "e se...", os "eu nem gostava dele". Tudo, é claro, mais de uma vez (aí é que fica um saco).
Porque, sim, se torna um saco.
É um saco que nem quando a sua melhor amiga quer sair com aquele garoto, mas ela não vai sair sozinha. Quem ela vai levar junto? E, no meio do filme, quem vai acabar conversando com a pipoca?
É um saco que nem ter que emprestar o resumo de estudos (que você ficou horas fazendo) e ver casais se beijando em público. Vamos lá, amigas mais fiéis, podem confessar agora. Ter amigos e amigas é legal quando a gente se reúne e come pizza, vê filme, vai a festas, pronto. É legal quando pagam a entrada do cinema para você porque você - acidentalmente - esqueceu o dinheiro.
Engraçado como a gente nunca pergunta para os nossos amigos se eles acham isso um saco. Esses tempos, eu e uns amigos tínhamos comprado uma pizza e uma das meninas começou a botar as azeitonas no canto do prato. Quieta, com  a ponta do garfo, azeitona por azeitona. 
Perguntei por quê.
- É que eu não gosto de azeitona, mas todo mundo sempre adora...
Ninguém tinha falado nada antes. Deve ser um saco quando seus amigos gostam de pizza com azeitona e você não.
Fiquei me perguntando quantas "pizzas com azeitona" não deveriam haver nas minhas amizades. Quantas vezes eu já liguei de madrugada antes da prova de alguém. Nem devo ter perguntado se podia, se acordei. Quantas vezes já enviei e reli e reenviei conversas do facebook para amigas só para ter certeza de que "Ele tá mesmo dando em cima de mim?". Será que elas estavam interessadas? Eram as pizzas com azeitona das minhas amigas.
Por isso eu sorria ao ouvir do Caíque. Eu sorria porque sou igual. Sorria porque é o que sobra para a gente. O que resta para a gente é relevar, assim como para os nossos amigos.



Beijinhos, Thaís

sábado, 11 de maio de 2013

Copo meio cheio ou meio vazio?

Quem disse que a gente é obrigada a escolher uma das duas opções, mesmo?

Outro dia, saindo do cinema, ouvi a conversa de duas amigas. Uma estava suspirando pelo filme, uma comédia romântica, e a outra saiu com uma cara megacrítica, sabe como é, né? Daí essa da cara megacrítica começou a reclamar que aquelas duas horas não tinham acrescentado nada à vida dela. "Só gosto de filme cabeça", sentenciou. Daí a amiga suspirante ficou toda bravinha e começou a discursar sobre como o filme cabeça é chato e como comédia romântica é legal: "Quando vou ao cinema, não quero pensar. Quero me divertir!" Daí a amiga megacrítica respondeu... Bom, na verdade, não sei o que ela respondeu porque segui meu caminho, né? Eu não ia ficar ouvindo as duas para sempre. O caso é que fiquei pensando: por que a gente tem essa mania de criar rivalidade entre as coisas?
Pode reparar: é como se, muitas vezes, a gente ficasse se forçando a tomar partido. Você ouve rock ou música sertaneja? Prefere campo ou praia? Loiro ou moreno? Carne vermelha ou peixe? Suco ou refrigerante? Ficar ou namorar? Aaaah! Parece que o tempo todo temos que marcar um "x" nas opções.
Uma vez, no colégio, me perguntaram se eu era do time que preferiam matemática ou português. Eu tinha uns 10 anos e, quando vocês tem uns 10 anos e perguntam uma coisa dessas, você se sente meio encurralada. A pessoa tinha colocado um "ou" na pergunta, o que deixava claro: eu só tinha uma opção. Pensei e respondi: português. Sem querer fazer drama sobre a minha vida colegial nem nada, passei anos conformada ao meu destino de ser boa em português e ruim em matemática. E não precisava ser assim! Anos depois é que eu vi que tinha gente boa nas duas coisas, que eu podia gostar de matemática e continuar gostando de português - ok, não tem como eu gostar de matemática -.
Voltando ao filme, toda vez que alguém pergunta que tipo de filme eu gosto, fico tentada a responder baseada nos últimos que vi, mas a verdade é que meus filmes preferidos são as comédias românticas. Aliás, variam de vez em quando... Mas, mesmo que eu sempre amasse os mesmos tipos de filme, por que teria que criar uma rixa entre esse tipo de filme que amo e os outros? Por que defender um e detonar o outro, como se estivesse escolhendo um candidato para votar?
Uma das coisas que acho mais legais na arte é a diversidade. É incrível ter acesso a tantos tipos de músicas, livros, etc. Essa variedade atende não só pessoas diferentes, como a mesma pessoa em diferentes momentos. Para que abrir mão disso? Fico pensando se essas pessoas que defendem ardorosamente um tipo de coisa gostariam que a outra opção sumisse do mundo só porque elas não gostam. Você, eu não sei. Mas eu acho que isso seria um empobrecimento desnecessário da arte.
Da mesma forma, acho que escolher categoricamente entre ficar/namorar, loiro/moreno, matemática/português é um empobrecimento da vida. A gente muda, nossos gostos variam e nossas ideias, felizmente, não são fixas. Pra que trocar o "e" pelo "ou"? Talvez seja mais fácil escolher se o copo está meio cheio ou meio vazio, mas a verdade é que ele está meio cheio E meio vazio - de refrigerante ou de suco, dependendo do dia. E tudo bem.




Beijinhos, Thaís